As noites estão se tornando cada vez mais insuportáveis, os dias são
frustrantes e não adianta quantas pessoas existam ao redor, a sensação é de
estar habitando um lugar inóspito. É normal sentir-se deslocado em seu próprio
mundo, sentir-se inútil se comparado aos outros indivíduos.
Todos que nos cercam estão satisfeitos com suas vidas, sejam elas
gloriosas ou insignificantes. Cada um pensa que agindo como age, está
contribuindo para que o mundo siga seu curso normalmente. E este mundo quase
perfeito onde todos são felizes ou encenam a felicidade segue como eles
querem Constante. Até determinado ponto onde a vida declina depois de uma
curva. Mas, mesmo assim, estando abaixo dos padrões de outrora o
conformismo transforma tudo em zona de conforto.
Às vezes é necessário apelar para a loucura moderadamente para assim
não enlouquecer de vez. Estou farto desta sociedade e de seus membros
hipócritas que interpretam papéis de solidários com o pesar alheio, quando na
verdade a sensação que habita suas entranhas ao deparar-se com um miserável é a
de repulsa e desdém.
Poupem-me de suas falsas manifestações de moralismo e me deixem fora de
seus círculos de perfeição. Não troco meu caminho de pedras pelo teu de areia,
ambos são aquecidos pelo sol. A areia macia que agora conforta teus pés é a
mesma que os molestará quando o sol incidir sobre ela ardentemente.
Este mundo não é justo para ninguém. Todos nascemos sob o mesmo signo,
todos nascemos nus. O que nos diferencia depois disso é o fato de uns serem
acolhidos e outros deixados à própria sorte. A justificativa de que alguns homens
são mais capazes que outros devido à lei de sobrevivência do mais forte é sem
fundamento. Todos somos indivíduos de uma mesma espécie e o que nos
diferencia não é um fator evolutivo natural, antes sim a capacidade de superarmos as adversidades com aquilo que nos é disponível. Ponha um homem fora do seu ambiente
natural de convívio e verá que este nada tem de superior àquele a quem julga
primitivo.
A fonte de força e autoridade das pessoas deriva do título que lhes é
atribuído. Privem-na deste "mérito", assim como cortaram os cabelos de Sansão e
verás que estas pessoas fraquejarão, pois sua vantagem não é resultado de nada
superior. Porém, aquele que mesmo abatido conserva em si o instinto de luta,
encontrará as forças necessárias para se reerguer.
Um homem certa vez pregou neste mundo: “Amai ao próximo como a ti
mesmo”. E amou aos semelhantes com tanto afinco que se esqueceu de cultuar em
si mesmo o amor pelo que era.
Penso que felizes são aqueles que desde cedo reconhecem na vida o gosto
amargo das decepções que esta lhe impôs, pois qualquer prazer, mesmo que breve
assemelha-se a comer da ambrosia e beber do próprio néctar dos deuses. O mesmo
não sei daqueles a quem a existência é favorável. Estes ao nascer repousam em
berço suntuoso e qualquer dor, qualquer barreira que a vida lhes dê, por mais
ínfima que seja, iguala-se em nível a uma catástrofe sem precedentes.
Um dos maiores motivos para ser infeliz é viver a questionar-se o
porquê da existência. Como sermos livres se por todos os lados estamos
acorrentados a um mundo de frustrações?
Encerro esta reflexão com uma citação:
“Quem
me dera não ter de viver entre os homens da quinta raça. Melhor seria se
tivesse morrido antes ou nascido depois, porque agora é a raça de ferro.”
(Verso 174-176) Hesíodo.
Roberto Codax. Estudante de ciências socias e escritor.